[Verso 1: Emicida]
Ele bebeu, bebeu, tipo vencedor
E depois riu, riu, como Bira do Jô
Cumprimentô todo mundo à la vereador
E subiu o morro estilo viatura
Ele nos deu, nos deu toda a fé de um pastor
Depois sumiu, sumiu deixando só a dor
Ignorou o aviso devagar com o andor
E flertou por sobre a vida dura
Trafegou aéreo, dançou sério, pala
Serpente rasteja, credo, pobre mestre sala
Cigarro no bolso, barro, Für Elise embala
No solo onde impera, qualquer bonde é vala
Toma outro drink, se é o que lhe resta
Toma outro drink, a vida é uma festa
Viaja Amyr Klink, faz eterna sua sesta vai
Nem deu tempo pra dizer, bye bye
[Refrão: Emicida]
A vida é só um detalhe (4X)
É tudo, é nada, é um jogo que mata
É uma cilada
A vida é só um detalhe (2X)
[Verso 2: Emicida]
Padeceu, desceu, como na seca, flor
E nóiz seguiu, seguiu suntando o que restou
Uns retrato, disco foi morar de favor
Bem quando vi que o mundo é sem Calma
Aconteceu, teceu como Deus desenhou
No que surtiu, surgiu um peito sofredor
Era rato, bicho, mofo, fedor
Mais saudade, que é sentir fome com a alma
E na ceia migalhas, no júri mil gralhas
Não jure, quem jura mente, pra sempre, fé falha
Vida, morte, números, de neguinho
Aqui é cada um com a sua coroa de espinhos
Qual a sua droga? Tv, erva?
Qual a sua droga? Solidão, cerva?
Onde você se esconde? Onde se eleva ein?
O que é seu, em terra de ninguém?
[Refrão]
[Outro: Dona Jacira]
Era dia de Cosme, madrugada, chovia lá fora
De repente alguém chama, Jacira, sou eu, Luiz
Pressenti, Miguel morreu, o que mais poderia ser?
Além do mais, meu coração já estava apertado
Prevendo desgraça na festa do terreiro, a certa hora
O Erê subiu e quem desceu foi seu Sultão da Mata
Me chamou disse: Pegue os meninos, vá pra casa
Disse :Prepare o coração e seja forte, vá!
Levantei, abri a porta e a desgraça se confirmou
Uma briga, o tombo, o seu Zé do Doce socorreu
Seu Zé é a representação do Estado no Jardim Fontális
Talvez ainda até hoje
Notícia pra dar, vaquinha pra enterrar, domingo
Justo eu, que me criei sem pai, perder o pai já é uma tragédia
Perdê-lo na infância é sentir saudade
Não do que viveu, mas do que poderia ter vivido
O enterro, a volta, o olhar do menino marejando
Pensando longe sem entender
E o meu coração apertado, sem conseguir explicar
O tempo foi encaixando tudo
Os pertences dele sempre no mesmo lugar
O velho chinelo abandonado respondem, ele não vai voltar
Os dias são escuros mesmo com sol quente
O silêncio de Miguelzinho cala cada vez mais fundo no peito da gente
Quando o pai morre, a gente perde a mãe também
Eu já sabia o que era isso
Como pode alguém morrer no mesmo dia que nasceu?