Chamo-me Riya, tenho 16 feitos já este ano
Apaixonei-me por um rapaz estrangeiro que veio num intercâmbio
Sinto-me feliz, sinto amor, este sentimento estranho
Que outros no seio da comunidade apelidam de sujo e desumano
Tantos me cospem na cara e perfuram com um olhar irado
Apenas segui o meu coração, não vejo o que isso tem de errado
Vizinhos na minha direcção, os que me impediram de estudar
Todos com pedras na mão, prontos para mas atirar
Retiram-me o direito de falar, de justificar a situação
Compareci a um julgamento popular, condenaram-me a violação
Sem ninguém para me amparar, sou arrastada por uma multidão
Levada em lágrimas para dentro da casa onde os violadores estão
Enquanto cada um deles me estupra, bate-me e chama-me puta
Com combustível incineram-me viva por ter dado luta
Não digas que é a vida, eu nunca arranjei desculpas
Olha-me nos olhos e diz-me se achas que eu tenho culpa
[Refrão]
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida, eu nunca arranjei desculpas
[Rap]
Nós somos o Noa e o Abdul, temos ambos 6 anos
Os pais do Noa são judeus, os do Abdul muçulmanos
Mas as pessoas que nos vêem na rua julgam que somos manos
De sangue não, mas é isso que sentimos quando brincamos
Já ouvimos rajadas, gritos e explosões foram mais de mil
Há duas semanas um morteiro destruiu o parque infantil
Morreu metade da minha turma, eu sei bem porque vi
Sabia o nome deles todos, mas chamaram-lhes baixas civis
Não acreditas no Inferno? Podes vir contar os mortos
Junta à conta os nossos pais, isto se encontrares os corpos
Contamos como vítimas numa guerra que não é a nossa
Porque hoje enquanto estávamos na escola tornámo-nos órfãos
Sofremos por ter nascido num mundo duma humanidade estúpida
No qual o tempo passa por nós mas nem a mentalidade muda
Não digas que é a vida, nós nunca arranjámos desculpas
Olha-nos nos olhos e diz-nos se achas que temos culpa
Olá, sou o Tom, este é o Jerry, o meu urso de peluche
Desculpa se não o vês, este mês o meu pai não pôde pagar a luz
A doença da qual padeço atrofia-me órgãos e músculos
Olha a máquina que me mantém vivo, acabou de apagar a luz!
Disseram que me ia aguentar, não haveriam alterações
Típico dum país que prefere investir em espiar outras nações
Ao contrário do corpo, a minha mente não tem limitações
Sonho jogar futebol ou explorar constelações
O meu pai só sonha em poder dar-me melhores condições
A minha mãe morreu no Iraque, agora só restamos os dois
Ele diz que não aguentará a dor de quando eu me fôr
Ensinou-me que conta alguma é superior ao valor do amor
Talvez eu ainda vivesse uns anos se tivéssemos ajuda
Ou se o dinheiro estivesse distribuído por todos de forma justa
Não digas que é a vida, eu nunca arranjei desculpas
Olha-me nos olhos e diz-me se achas que tenho culpa
[Refrão]
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida, eu nunca arranjei desculpas
[Rap]
O meu nome é Lucky, 12 anos e sou apenas um cão
Vivo na rua com o meu dono e com o pouco que nos dão
Ele com a roupa que tem no corpo e uma cama de cartão
Eu com 6 chumbos no lombo, um animal achou a isso diversão
Fui maltratado e pontapeado como parece ser costume
Mas não foi com este dono, com este eu tenho muito em comum
Entende como é ser-se abandonado sem pudor algum
Vi tantos animais, seres humanos só conheci um
Saíram dois indivíduos dum carro com uma pressão de ar
O meu dono acariciou-me e largou a trela para eu me salvar
Deram-me três tiros, esta dor, eu reconheço-a
Ele tentou defender-me, deram-lhe um pontapé na cabeça
Sentimos os ossos enregelados, deitados aqui na chuva
Nesta vida sem condições, com sabor de amargura
Não digas que é a vida, eu nunca arranjei desculpas
Olha-me nos olhos e diz-me se achas que tenho culpa
[Refrão]
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida, eu nunca arranjei desculpas
[Rap]
Eu sei que sou a Asnee, mas desconheço a minha idade
Os meus pais venderam-me à fábrica ainda na maternidade
Pelo menos é o que me dizem, mas duvido que seja verdade
Porque se eles eram meus pais, como puderam abandonar-me?
Aqui sou maltratada e ainda trabalho o dia inteiro
Em ténis mostrados em videos de gajos que se gabam de ter dinheiro
Um par deles custa 100 vezes mais do que o que recebo para os fazer
E eu suo e escorro sangue só para lhes dar esse prazer
O encarregado do meu posto é um monstro assassino
Joga connosco ao tiro ao alvo quando se sente aborrecido
Sem um espelho, nem razões, eu nunca vi o meu sorriso
Nem sei se o consigo, não sei se é feio ou se é bonito
Não sei ler nem escrever, entre 500 só sabem duas
Estou restrita a este espaço, do nascer do sol ao da lua
Não digas que é a vida, eu nunca arranjei desculpas
Olha-me nos olhos e diz-me se achas que tenho culpa
[Refrão]
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida, eu nunca arranjei desculpas
[Rap]
Sejas quem fores, luta por uma sociedade instruída
A única ajuda que não ajuda é a que não é recebida
Acredita, que nada te limita nesta vida
Nem sexo, nem etnia, nem doença, nem guita
Todo o bem estar gira à volta do que damos e recebemos
Lembra-te por muito pouco que tenhas há quem ainda tenha menos
Pensa antes de julgar, todos nós temos sentimentos
Mas esquecemo-nos disso pela forma como vivemos
Vejo tanta gente egoísta, fútil e sem valor
Com tudo ao seu dispor, e gente boa só com um cobertor
Se achares que falta muito, pensa que um dia já faltou tudo
Começa por ser a mudança que tu queres ver no mundo
Vai em busca da felicidade, mesmo que a chance seja diminuta
Vais sentir que venceste, mesmo que percas a luta
Só não digas que é a vida, deixa de arranjar desculpas
Há quem esteja pior e tu a queixares-te duma vida dura?
[Refrão]
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida (Não digas que é a vida)
Não digas que é a vida, deixa de arranjar desculpas