[Intro: Will Barros]
Pai Nosso, que estais no Céu...
Santificado seja o Teu nome...
Livrai-nos de todo o mal, Amém!
[Refrão: Marcão Baixada]
A lua cheia e a rua chama (chama)
A ronda passa, sente o drama (drama)
Sonhos morrendo e gueto clama (clama)
E eu tô vendo tudo em chamas (chamas) [2x]
[Verso 1: Flávio "Santo Rua"]
Na luta, o opositor e o caçador vai virar presa
Não queira bons empregos, seja o dono da empresa
Antes que projéteis atravessem meus pares;
Outro Palio fuzilado e tudo mais vá pelos ares
Fui, sem pai, cresci e vi que a morte ainda é fruto
Nas letras que eu escrevo, escravo do próprio luto
Herdamos humilhação, nossa imagem, tão pesada
Quem tem cara de bandido, se o diabo veste farda?
É parda a pele, o alvo visto é homem preto
Por séculos na cena e morrendo no mesmo gueto
O aplauso e hipocrisia, a sinfonia das panelas
Da sacada dos seus prédios, vendo sangrar a favela
Muda foto no Face, com terrorismo na França
Não ligam se no Brasil polícia mata criança preta
Sem noticiário e nem dinheiro
Tâmo descendo os morros, avisem seus porteiros
[Refrão: Marcão Baixada]
[Verso 2: Jota Jr]
Macaco hidráulico, mais 2 no asfalto, tá tudo errado!
Não era pistol Uzi, era uma furadeira
Sentenciado, mas não julgado, despreparado
Confunde arma com skate. Tá de brincadeira?
Fazendo jus ao que são comparados, cegos fardados
Fica difícil confiar
Impossível de pedir respeito aos menor de preto
Que sai pra rua pra quebrar
Se vocês quebram, vocês apelam burlando regras
Usando formas ilegais
Vocês ramelam, se é de favela, já sabe a meta:
Foda-se o choro de quem é o pai!
O curso que não acabou
E o celular que o moleque nem mesmo desfrutou
É tipo um filme de terror...
E o despreparo de quem diz que nos protege é assustador
[Refrão: Marcão Baixada]
[Verso 3: Marcão Baixada]
E a gente ainda se mata; Rio é cruel igual aos 300 de Esparta
Pouco mudou, a carne ainda é barata
Se eu questionar, posso tomar uma gravata
Acham nossa gente ingrata. Dizem que a conversa tá chata
Mas a rotina não pára; vários menor levando tapa na cara;
Seguem rezando pra ter a pele mais clara
Tô vendo sangue, mas o jornal mascara
E a conta tá mais cara.... Tanto perrengue que eu fico de cara
Já escolhi o meu lado: Em prol da vida eu não fico calado
Favela chora, com um berro entalado
5 mano num carro fuzilado
Mas sem ter vacilado; O seu crime era ser favelado
Eu vi as marca no Palio... Me perguntei: Senhor, o quanto que eu valho?
Na correria, olha o quanto eu batalho!
Pra alguém vir me matar à trabalho? O sistema é falho
Mais uma ferida com retalho
[Refrão: Marcão Baixada]
[Verso 4: Sahell]
Holiday, só os preto que segue a lei
Na Freeway, os neonazistas dão o play
Sei bem mais, que os capuz da Ku Klux Klan
Aliás, para os policiais, nossa cor, nossa história
Tanto fez, tanto faz...
É bom correr atrás, usar o raciocínio
Dos manos do alumínio aos manos do condomínio
5 foram executados em Costa Barros, na estrada João Paulo...
[Intervenção: DJ Will-Ow]
[Ponte: Shahell]
Roberto, Cleiton, Junior, Wesley e Carlos
Se eu pegar embalo nessa lista, eu não paro
Genocídio mundial, mais de 50 furos
Dois só tinham 16, quem é a bola da vez?
Do sistema burguês, de forja declarada
Cápsula deflagrada, homicídio indefensável
Crime inafiançável, justiça pro meu povo...
Pro meu povo... Desejo imensurável
[Refrão: Marcão Baixada]
[Verso 5: Mancine]
Fuzilamento inesperado, eram 5 no carro
Execução à luz da lua, chacina no bairro
Sempre a mesma história e ninguém leva a culpa
E o carrasco de fuzil tava de viatura
Fatos como esse, deixam qualquer um bolado
E deixa o povo com motivos, completamente revoltados
Que se rebelam em manifestações e bloqueiam tudo
Buscando um meio de ser ouvido pelo resto do mundo
No rosto da mãe, uma lágrima corre
Dentro do carro furado, muita sangue se escorre
No tumulto muito choro e várias vozes
Jovens negros atacados pelo fato de ser nobre
Mais 5 vítimas e menos 5 meninos
Que entram pra estatísticas e ficarão esquecidos
Somos todos Maju, macacos, ok? Eu também acho correto
Mas somos todos Wilton, Wesley, Cleiton, Carlos e Roberto
[Verso 6: Thiago Ultra]
Chacina dos menor na Candelária, é quase cultural no Rio
Ver os pretos falecendo pela ordem de um capitão do mato
Jogo de gato e rato
Onde quem dita a regra passa a vida enriquecendo
Vejo dor em nossas lamentações
Enquanto o demônio de olho azul viaja contando seus milhões
Tática de extermínio pra manter a hegemonia
Vi na tela mãe chorando e a Zona Sul aplaudia
5 manos sorridentes, imprudência pra PM
Pega arma com numeração raspada e cria cena, a perna treme
Só de lembrar que são a tal da proteção
Fuzil apontado pra tia da feira
És notório a falta de preparação
Sois retrato, opressão, soldado caveira
10... Bem mais do que isso morrem por dia
Foi jogado na guerra da qual não queria... Zés
[Refrão: Marcão Baixada]
[Verso 7: DUGHETTU]
Eu, Tu, Ele... Quem tem a culpa no game?
Recorta a imagem, neguinho, vem! Para no frame
Tenta entender o momento, além do olho no lance
Se de um lado lágrimas caem, de outro, revanche
Iguais entre si matam-se todos os dias
Sensacionalismo barato, pura hipocrisia
Que guerra que tu tá? Que luta tu entrou?
Nessa armadilha, tu sabe, tu já caiu, morou?
Porque tu grita se tu não sentiu, não viu?
Tira a porra do áudio! Não aumenta, não finge
Seja real no bagulho, confessa que pra você
Os moleque de cor são igual entulho
É ilusão achar que os iguais vão chorar por tu
Ingenuidade 'cê pensar que sentem igual a tu
Jornal amarelou, baile recomeçou...
Galo cantou...